Em uma das aulas do CC Campos das Humanidades, tive o privilegio de poder participar de um debate provocado pela professora Regina Oliveira, referente a algumas de questões que ainda são tabu em nossa sociedade. A visão dos imigrante em relação a aceitação no Brasil e a questão da implantação da politica de cotas em universidades. Abaixo você pode assistir a ambos os videos apreciados em sala de aula:
O mais interessante desse debate é poder encarar a questão de como o outro vê aquilo que ele determina como seu espaço. Em ambos os videos vemos relatos de pessoas que até então seriam estranhos em um certo ambiente em que predominantemente já existia um grupo e esse grupo por vezes reage de algum modo a presença desses indivíduos.
No caso dos Angolanos fica nítido o quão muitos brasileiros ainda tem em si uma bagagem destorcida de como encarar seus imigrantes, muitos dos discursos apresentados demonstram o quão regado de preconceitos e esteriótipos é a nossa visão sobre o povo africano. Aproveito ate para fazer de certo modo um link ao que foi descrito no post sobre o risco de uma unica historia, onde vemos a concepção equivocada de muita gente em relação ao povo de países da Africa. O desconhecimento para com o que esses indivíduos são torna para muitos de nossos compatriotas esses indivíduos uma especie de desconhecido, um estranho que invade seu espaço e que muitas vezes não é bem visto nesse ambiente, prova maior disso é o desentendimento e os constantes conflitos ocasionados pela presença de imigrantes venezuelanos em Roraima.
No caso do vídeo que trata sobre a implantação da politica de cotas na USP o que há de similar é a reação não muito positiva dos atores sociais que naquele espaço já estavam estabelecidos, a presença de estudantes negros na USP é algo muito baixa em relação a muitas universidades publicas no Brasil. Essa ausência decorre por conta de inúmeros fatores raciais e sociais encrustados em nossa sociedade que privilegia o homem branco em detrimento do jovem negro, primeiro por encarar uma sociedade que respira em suas diversas instancias a instalação de um racismo sistêmico, que coloca nosso povo negro em um lugar de subalternização, que atribui cargos com menos valorização a negros, que impõe ao jovem muitas vezes ter que abandonar o estudo ou conciliar a vida de estudante com a de trabalho para ajudar a por um prato de comida na mesa, segundo que nosso sistema publico de educação básica é falho, mesmo havendo na lei a obrigação de se fornecer um ensino para todos os brasileiros nos vemos que por muitas vezes essas palavras não saem do papel.
Por conta de um conjunto de fatores que torna nossa estrutura educacional em muitos lugares deficientes com nossos professores mal valorizados, com muitos estudantes de licenciatura tendo uma formação rasa, pois não há um interesse em se investir mais em educação, por muitas vezes as aulas são canceladas por falta de merenda, energia, água e professores, e esse jovem que passa por tudo isso quando conclui o ensino médio se tiver a oportunidade de sonhar em fazer um ensino superior ele tem que competir por uma vaga com outros estudantes, muitos desses estudantes nunca precisaram trabalhar, nunca perderam aula e muitos de seus professores tiveram uma qualificação tão boa que lhe fizeram conceber melhor todos os assuntos. Disso vemos turmas de medicina majoritariamente formadas por brancos, filas de desempregados brigando por vagas de emprego composta majoritariamente por negros.
No vídeo alguns alunos entram em salas de aula para dialogar com outros alunos com relação a importância de se promover a politica de cotas na USP e alguns alunos na sala manifestam-se contrários a presença deles na aula pois estariam incomodados com o fato de não estar tendo a aula a qual eles estavam tendo. Visivelmente fica nítido o incomodo de membros daquele grupo com a presença desses indivíduos que la dialogavam em implantar uma politica que tornaria mais complexo a entrada de muitos dos já habituados ocupantes desse espaço. Nossas universidades por seculos foi espaço das elites brancas e com o sucesso da politica de cotas em abrir espaço para que jovens que antes não tinham possibilidade de estar em uma universidade hoje eles estejam ocupando esses espaços, porém essa conquista por muitos é vista como uma ameaça que deve ser barrada.
É extremamente lamentável ver em nosso país o quanto ainda os privilégios existem e pior ainda ver os privilegiados reagindo contra politicas que são necessárias para auxiliar os que mais precisam. Estamos em um período preocupante que sem duvidas ainda deve causar muitos calafrios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário